Tratado como bico por uma década, o trabalho de motoristas por
aplicativo pode ser formalizado com o projeto de lei que regulamenta a
categoria, enviado ao Congresso Nacional pelo presidente Luís Inácio Lula da
Silva (PT) nesta semana. Comemorada por parte do setor e criticada por outra, a
proposta alterará o cenário do mercado com possíveis consequências para os
passageiros, sob quem paira a pergunta: as viagens de 99 e Uber ficarão mais
caras com a regulamentação?
As próprias empresas não tocam no assunto. Na nota que divulgou para a
imprensa, a Uber afirmou que o projeto de lei é um "importante marco", mas não
citou nada sobre preços ao consumidor — questionada diretamente sobre o assunto
pela reportagem, ficou em silêncio. A 99 também não respondeu. A Associação
Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) saudou a iniciativa do
projeto, contudo não mencionou os passageiros em sua nota.
Na perspectiva de sindicatos que defendem o projeto, não deve haver
impacto na tarifa. "As empresas nos repassam até 60% do valor da corrida. Elas
já têm um ganho muito alto e não vão querer perder os passageiros", argumenta a
presidente do Sindicato dos Condutores de Veículos que Utilizam Aplicativos do
Estado de Minas Gerais (Sicovapp-MG), Simone Almeida.
Ela celebra a responsabilidade de contribuição ao INSS pelas plataformas
— pelo texto, elas pagarão 20% do valor, e os trabalhadores, 7,5%. "Há quatro
meses, eu quebrei minha clavícula e fiquei parada, sem poder dirigir. Não
pagava meu INSS e fiquei sem ter um real de remuneração, dependendo de
familiares para me ajudar na alimentação e nas contas", diz Almeida. De acordo
com o governo federal, 23% dos motoristas contribuem com a Previdência
atualmente. Entenda outros pontos da regulamentação do trabalho dos motoristas.
Mesmo trabalhadores contrários à proposta avaliam que ela pode ser
negativa para os profissionais, mas não para os passageiros. O presidente da
Associação dos Motoristas por Aplicativo e Autônomos de Minas Gerais
(Asmopoli-MG), Sérgio Nascimento, diz que "só o governo vai lucrar" com a
mudança — a projeção é que as novas normas direcionem R$ 249 milhões a mais à
Previdência mensalmente. "Para o passageiro, não [não vai ficar mais caro]. A gente
quer tarifa mínima de R$ 10, e até hoje ela subiu a R$ 6, R$ 7, no máximo. O
aplicativo quer beneficiar o passageiro, e não o motorista", diz ele.
Fonte: O Tempo