O governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, sofreu um revés com
a rejeição de um recurso de apelação perante a Corte Penal Internacional (CPI),
onde buscava interromper as investigações sobre possíveis crimes contra a
humanidade.
"A Câmara de Apelações (
) rejeita os argumentos apresentados pela
Venezuela. Recusa as apelações e confirma a decisão impugnada", declarou o juiz
Marc Perrin de Brichambaut ao tribunal sediado em Haia, conforme relatado pela
agência AFP.
Em novembro de 2021, a Venezuela tornou-se o primeiro país da América
Latina no qual a CPI iniciou uma investigação formal, após o promotor britânico
Karim Khan anunciar a abertura do caso conhecido como "Venezuela I",
relacionado a alegados crimes contra a humanidade ocorridos em 2017.
Nesse ano, violentos protestos contra o governo de Maduro eclodiram, com
milhares de pessoas indo às ruas devido à escassez de alimentos e medicamentos,
inflação e insegurança.
As manifestações foram intensificadas pela suspensão de um referendo
revogatório contra o presidente.
No ano passado, o governo de Maduro apelou uma decisão favorável à
retomada da investigação, argumentando que o princípio da complementaridade
deveria ser respeitado.
Esse princípio estabelece que um tribunal internacional complementa a
justiça nacional e só pode intervir se um país não estiver investigando os
mesmos crimes.
Segundo a agência Reuters, os juízes de apelação unânimes rejeitaram
todos os argumentos da apelação, dando luz verde à Procuradoria do CPI para
retomar as investigações sobre os abusos.
Em resposta à decisão, o governo venezuelano expressou em um comunicado
seu "desacordo" com a decisão, alegando que ela "responde à intenção de
instrumentalizar os mecanismos da justiça penal internacional com fins
políticos, baseando-se em acusações de supostos crimes contra a humanidade que
nunca ocorreram".
A nota também afirma que toda essa manobra foi construída a partir da
manipulação de um pequeno conjunto de crimes e acusa a oposição de distorcer
casos de alegadas violações dos direitos humanos.
O governo de Maduro assegura estar investigando as denúncias e sustenta
que não houve crimes contra a humanidade em larga escala.
Em 2020, Khan afirmou que havia "bases razoáveis" para acreditar que
funcionários governamentais e militares perpetraram desaparecimentos forçados,
execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias e torturas contra dissidentes
durante os protestos de 2017, nos quais 125 pessoas perderam a vida.
A decisão da Sala de Apelações da CPI foi aplaudida por organizações de
defesa dos direitos humanos na Venezuela, em meio a protestos exigindo a
libertação da ativista Rocío San Miguel, detida em 9 de fevereiro.
Durante vários dias, as autoridades não forneceram informações sobre seu
paradeiro e negaram acesso a familiares e advogados.
San Miguel foi acusada de participar de uma alegada conspiração para
assassinar Maduro e permanece detida em El Helicoide, denunciado pela
dissidência como "o maior centro de tortura da Venezuela".
A detenção de San Miguel foi qualificada como desaparecimento forçado
pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, uma
afirmação que enfureceu Maduro, levando-o a ordenar a expulsão de todo o
pessoal dessa instância na Venezuela.
A Missão Internacional Independente de Determinação dos Fatos sobre a
Venezuela, um mecanismo da ONU com um mandato separado do Alto Comissariado,
investigou e documentou casos de execuções extrajudiciais, desaparecimentos
forçados, detenções arbitrárias, torturas e outros tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes ocorridos desde 2014.
Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c25ljn2x4d8o
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br