Os países ocidentais expressaram seu apoio à Ucrânia em uma sessão especial da Assembleia Geral das Nações Unidas nesta sexta-feira (23) para lembrar o segundo aniversário da invasão da Rússia ao país e espantarem um suposto "cansaço" para continuar defendendo a paz.
Diversos ministros das Relações Exteriores e representantes governamentais, a começar pelo ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, participaram da reunião.
Kuleba foi o primeiro a tomar a palavra e denunciou que os dois anos de guerra em seu país, que "sangrou o coração da Europa, levaram a uma deterioração da segurança global, com cada vez mais guerras e conflitos estão ocorrendo no mundo".
O chanceler ucraniano acusou a Rússia de "ignorar a vontade da maioria", enquanto os diplomatas deste país olhavam distraidamente para seus telefones, mas ele foi apoiado por representantes de seus parceiros: Estados Unidos, países da União Europeia e Japão, entre outros.
– Há uma frase que tenho ouvido ultimamente: cansaço ucraniano, que anos depois dessa guerra, estamos deixando de apoiar e cuidar – disse a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, que pediu para "não nos tornarmos insensíveis à luta do povo ucraniano".
Ela disse que o conflito ucraniano continua apenas "por causa de um homenzinho e das falsas noções das quais precisamos concordar com tudo para conseguir fazer alguma coisa, e que enfrentar esse problema significa ignorar outros", citando a guerra de Israel contra o grupo terrorista islâmico palestino Hamas na Faixa de Gaza.
O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, fez uma observação semelhante.
– Precisamos ser fortes. Dois anos depois, algumas pessoas estão se sentindo cansadas, há outros problemas e um (outro) compromisso pode ser atraente, mas é errado, é preciso pensar no custo de desistir – comentou.
Cameron lembrou que "(Vladimir) Putin disse que não haverá paz até que os objetivos da Rússia sejam alcançados", o que significa, em sua opinião, que "ele estará de volta para mais em comparação com 2008 e 2014", embora tenha admitido que "o mundo começou a despertar para a ameaça recentemente".
O chanceler britânico enfatizou que, além da Ucrânia, o mundo está sofrendo com as consequências da guerra, especialmente os mais pobres, mas a Rússia também não fica para trás.
Em nome dos países nórdicos, a chanceler da Dinamarca, Lisbet Zilmer Johns, pediu à Rússia que respeitasse os princípios internacionais, cessasse a guerra imediatamente e retirasse suas tropas do território ucraniano, além de responsabilizar Moscou, um lema compartilhado por outros.
O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, enfatizou que a ONU aprovou quatro resoluções com ampla maioria que refletem o apoio à Ucrânia e destacou a ajuda de seu país para aliviar as consequências do conflito, incluindo a fome e a recepção de refugiados.
Ele também agradeceu aos trabalhadores humanitários espanhóis na Ucrânia e exigiu justiça para Emma Igual, diretora espanhola de uma ONG que morreu em um ataque das tropas russas no final do ano passado.
Durante o dia, também houve menções ao líder da oposição Alexey Navalny, que morreu em uma prisão russa há uma semana, e os representantes dos países bálticos destacaram o assédio da Rússia a membros de seus governos que Moscou colocou em listas de criminosos procurados.
A Rússia foi novamente isolada, com seu embaixador na ONU, Vasily Nebenzya, fazendo seu discurso habitual, no qual se apresenta como um combatente contra o nazismo, acusa a Ucrânia de promover uma agenda política e os países ocidentais de "cegueira seletiva".
Nebenzya reforçou seu discurso com a recente notícia da morte do jornalista chileno-americano Gonzalo Lira, um crítico do governo ucraniano, em uma prisão ucraniana, alegando que ele foi torturado até a morte pelas forças de segurança.
O chanceler de Luxemburgo, Xavier Bettel, destacou-se logo em seguida com um discurso pessoal e raivoso no qual revelou que sua avó era uma mulher russa que teve de deixar seu país e denunciou a Rússia por "tentar reescrever a história, mas não há mais nazistas em Kiev do que em Moscou".
*EFE