Desde que surgiram as
primeiras revelações envolvendo o tenente-coronel Mauro Cid, a cúpula do
Exército trata a situação interna do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro
com cautela. O argumento sempre foi que Cid tinha uma carreira brilhante e que,
ao atuar ao lado do presidente da República, agiria apenas de modo a cumprir
ordens do chefe maior da força – uma questão de hierarquia, portanto.
Esse posicionamento era
utilizado, por exemplo, ao abordar o caso da fraude no cartão de vacinação
contra a Covid-19 e da venda de presentes luxuosos recebidos por Bolsonaro em
viagens internacionais. Cid, no entanto, decidiu confessar sua participação
ativa nos dois casos à Polícia Federal, alegando que vendeu as joias a mando do
ex-presidente, sendo todo o recurso proveniente do negócio entregue em mãos a
Bolsonaro. Após quatro meses de prisão, o tenente-coronel firmou um acordo de
delação premiada e foi libertado.
Contudo,
mensagens obtidas no celular do militar e divulgadas no âmbito da operação
Tempus Veritatis, da Polícia Federal, revelam uma atuação muito mais ativa de
Cid.
Em despacho, a PF coloca Cid como partícipe em quatro
principais frentes de atuação: a produção e divulgação de notícias falsas sobre
as eleições de 2022, a incitação de militares a dar um golpe de Estado, a
elaboração de minutas de decreto com fins de golpe e a integração a um núcleo
de inteligência paralela com o objetivo de monitorar e prender autoridades.
Cid
é visto articulando pessoalmente a ida de manifestantes para Brasília,
inclusive tratando sobre valores para custear os gastos, indicando os pontos de
protesto (Congresso e Supremo) e monitorando os passos do ministro Alexandre de
Moraes, alvo do grupo no caso de concretização do golpe.
Diante desse cenário,
militares do Exército admitem que houve uma mudança de percepção em relação a
Cid. Antes visto como um "menino prodígio", conforme relatou um general, ele
passou a ser tratado como alguém que atuou no plano. Isso, afirmam, dá mais
"tranquilidade" para a definição do futuro do militar.
Em
abril, está prevista a promoção para coronel – Cid, antes de todo o enrosco,
era tratado como certo que ascenderia ao posto. Entre os critérios estão mérito
e antiguidade dentro da força.
Oficialmente, não há nada
que impeça a promoção de Mauro Cid, pois ele não está sub judice ou sequer é
alvo de denúncia. Restará a ele, então, a escolha dos seus oficiais. "Cid não
será promovido", afirmou um general. Ele ressalta, porém, que o processo ainda
não começou e que a definição será somente em abril. No entanto, por esse
raciocínio, não seria justo com os demais concorrentes beneficiar uma pessoa
que está afastada da força.
Mesmo assim, admitem que
não será uma decisão fácil. Até lá, o Exército torce para que Mauro Cid seja
condenado ou indiciado, o que tiraria da força o peso de limar a carreira do
militar ou o desgaste de promovê-lo depois de tudo que aconteceu.
Com informações de VEJA