Apurações conduzidas pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) revelam um
racha histórico na cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores
facções criminosas da América Latina e que, segundo a Organização das Nações
Unidas (ONU), movimenta até R$ 2,5 bilhões por ano.
O motivo principal seria um diálogo gravado entre o líder máximo do PCC,
Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, com policiais penais federais, na
Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). Na ocasião, o detento chegou a
afirmar que Roberto Soriano, o "Tiriça" e número dois na hierarquia da facção,
era um "psicopata".
A declaração foi usada por promotores durante o julgamento de Roberto
Soriano. O criminoso, que cumpre pena atualmente na Penitenciária Federal de
Brasília, junto a Marcola e outros líderes do PCC, foi condenado a 31 anos e
seis meses de prisão, em 2023, por ser o mandante do assassinato da psicóloga
Melissa de Almeida Araújo.
A servidora pública trabalhava na penitenciária federal de segurança
máxima de Catanduvas (PR) e teria sido vista pelos criminosos como um "alvo
fácil".
O crime, cometido em 2017, seria uma ação do PCC contra o rigor do
regime adotado no Sistema Penitenciário Federal (SPF). Segundo as investigações,
a facção considera que os presos sofrem "opressão" do Estado, pelo fato de o
esquema de segurança não prever visitas íntimas e de o contato com advogados e
parentes ser estritamente por meio de parlatório, o que não favorece a entrada
de drogas, celulares e, sobretudo, a entrega de bilhetes nas prisões.
Como divulgado com exclusividade pela coluna Na Mira, a primeira
conversa ocorreu em junho de 2022. Na ocasião, Marcola falou sobre a "imagem"
que as pessoas têm dele. Camacho chegou a dizer que não é um "cara bonzinho",
mas "perigoso de verdade". Porém, destacou não ser a favor da "violência
gratuita".
Marcola continuou a fala afirmando não ser da "política" dele matar
agentes penitenciários. Contudo, disse que alguns faccionados foram executados
por determinação dele, "mas por outras circunstâncias". O preso emendou
alegando que "era espancado" na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), a
600km da capital paulista, onde cumpriu pena antes de dar entrada no sistema
federal. Também reforçou que, no SPF, "sempre foi respeitado por todos os
agentes". O 01 do PCC desabafou, ainda, sobre a suspeita de mandar matar
servidores e alegou que "poderia se tornar um psicopata desses igual ao
Soriano" e que "não é isso", pois "não é da natureza" dele.
Usada no tribunal, a declaração de Marcola teria sido interpretada por
Soriano como uma espécie de delação. O então 02 teria se unido a Abel Pacheco
de Andrade, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, também
presos em Brasília, para pedir, por meio do chamado "salve", a morte e expulsão
de Marcola do PCC sob a justificativa de displicência no comando da
organização. Em fevereiro deste ano, a cúpula do PCC emitiu um comunicado com a
expulsão de Soriano, Abel Pacheco e Wanderson Nilton da facção por "traição".
"Ala terrorista"
Roberto Soriano é visto como o cabeça da "ala terrorista do PCC" — grupo
radical que coordena morte de autoridades. A coluna apurou que a facção fornece
um auxílio mensal aos assassinos de policiais — o valor pode chegar a R$ 5 mil.
Há mais de 10 anos cumprinto pena no Sistema Penitenciário Federal,
Tiriça foi transferido, em 2012 da Penitenciária Regional de Presidente
Venceslau para a Penitenciária Federal de Porto Velho (RO).
Autoridades o consideram como criminoso de altíssima periculosidade, com
grande poder financeiro e planos de fuga. Quando estava preso em São Paulo, os
investigadores chegaram a encontrar bilhetes escritos por Soriano determinando
o assassinato de policiais da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) da
Polícia Militar de São Paulo (PMSP).
Na mira - Metropoles