A pergunta é clássica nas entrevistas de emprego: aonde você imagina que estará profissionalmente daqui a cinco anos? Para muitos trabalhadores, a resposta não depende somente do esforço pessoal, mas da temperatura do mercado nesse período. E a previsão de especialistas é de mudanças profundas nos próximos cinco anos, capazes de desestabilizar milhões de empregos.
Ao mesmo tempo em que novas tecnologias e a pauta ambiental podem criar 69 milhões de novas vagas qualificadas até 2027, outras 83 milhões têm potencial para ser eliminadas. Com isso, 14 milhões de trabalhadores, 2% de todo o volume de emprego atual globalmente, precisarão de qualificação ou requalificação para encontrar emprego novamente.
Essa é a conclusão do relatório "Futuro do Trabalho 2023", elaborado pelo Fórum Econômico Mundial com apoio da Fundação Dom Cabral (FDC). Ele explora como tendências de mercado, como a adoção de inteligência artificial nas empresas, afetará a oferta de emprego. No Brasil, o cenário pode ser agravado, explica um dos autores do documento, o professor da FDC Carlos Arruda. "Há escassez de mão de obra qualificada. Os países desenvolvidos farão atração de cérebros para profissionais qualificados e nós vamos perder os nossos. Isso já está acontecendo", pontua.
Setor essencial no Brasil, o agro é um dos setores que o relatório prevê que passará por grandes transformações. Os profissionais que já atuam no ator precisarão se atualizar para se manter no mercado, que também precisará lutar para encontrar mais trabalhadores qualificados, avalia Arruda. "Um operador de trator precisará ter conhecimento digital, de automação, de sistema de GPS, porque a agricultura será cada vez mais tecnológica. O Brasil terá uma situação de escassez de mão de obra e a necessidade, ao mesmo tempo, de formar profissionais mais qualificados para o agro".
A análise considera 45 economias mundiais e leva em conta dados de plataformas como LinkedIn e Coursera, além de pesquisa de opinião com executivos de 803 empresas espalhadas por 27 setores, que, juntos, somam 11 milhões de postos de trabalho.
Em média, os empregadores consultados pelo relatório afirmam que 44% das habilidades dos trabalhadores serão alteradas nos próximos cinco anos. Por isso, eles afirmam que 60% da atual força de trabalho precisará de treinamento até 2027 — só metade, porém, deve de fato ter acesso a treinamento adequado.
As habilidades exigidas nos postos de trabalho vão desde as chamadas soft skills, habilidades comportamentais, a competências técnicas. Confira as principais:
Particularmente no Brasil, executivos esperam que 53% das habilidades exigidas permaneçam iguais pelos próximos cinco anos. As prioritárias para qualificação ou requalificação serão:
O professor da FDC Carlos Arruda avalia que o investimento em tecnologia é importante, mas reforça que treinar outras competências dos trabalhadores é igualmente necessário. "O relatório sugere que as habilidades requeridas não são necessariamente aquelas nas quais as empresas estão investindo mais, que são mais técnicas". Estimular a capacidade criativa dos profissionais, por exemplo, pode ser tão relevante quanto capacitá-los para lidar com uma inteligência artificial, pondera o especialista. Quase metade (45%) das empresas consultadas avaliam que o financiamento público para investir em treinamento é uma intervenção eficaz.
O relatório do Fórum Econômico Mundial também analisou quais ocupações tendem a ficar mais aquecidas globalmente e contratar mais no futuro e quais, pelo contrário, devem sofrer retração. Além da continuidade do "boom" dos setores de tecnologia, empregos na área de educação devem aumentar 10%, com mais 3 milhões de empregos, com ênfase para professores de educação profissional e universitários. O setor agrícola, especialmente para operadores de equipamentos, tem margem para crescer de 15% a 30%, o que significa 4 milhões de postos de trabalho.
Confira as profissões com potencial de crescimento:
E as profissões que devem diminuir:
A sobrevivência no mercado do futuro — e do presente — depende de mais alfabetização tecnológica, sublinha Arruda. O primeiro passo, diz ele, é o profissional questionar se sabe usar as ferramentas tecnológicas ao seu dispor. "Ferramentas de análise de dados, principalmente de inteligência artificial, serão parte do dia a dia, assim como usar email. Elas são fundamentais para qualquer profissional. E ele deve ir além disso e investir nas habilidades de capacidade analítica e de inovação, não esperar ser cobrado", conclui.
O relatório será discutido pelos pesquisadores da FDC e por especialistas em RH em transmissão ao vivo no YouTube da fundação, às 17h da terça-feira (2). Estarão presentes o professor Carlos Arruda, a vice-presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Brasil), Eliane Vasconcellos, a vice-presidente de RH da IBM, Luciana Camargo, e a chefe de RH da Anglo American, Sara Murssa.
Fonte: O tempo