O ano legislativo de 2024 começa com um movimento da oposição para avançar em
projetos que miram a atuação de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A
articulação ocorre em meio à insatisfação de parlamentares, principalmente
bolsonaristas, sobre os inquéritos da Suprema Corte contra deputados
oposicionistas.
O discurso reforçado pelos parlamentares é o de que a oposição tem sido
perseguida pelo STF. Como resposta, o grupo se mobiliza para pedir avanço na
tramitação de uma série de projetos sobre o tema. Alguns dos textos, inclusive,
tĂȘm apoio do presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD).
É o caso da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nÂș 16/19,
protocolada pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM). O texto é endossado por
deputados de oposição, mas também tem apoio de governistas.
Outras PECs sobre o mesmo assunto também tramitam no Congresso, como a
PEC nÂș 77/19, de Angelo Coronel (PSD-BA), e a de nÂș 51/23, de FlĂĄvio Arns
(PSB-PR).
O texto de Valério propõe a limitação do mandato de ministros do STF a
oito anos, permitida uma recondução. A regra vĂĄlida atualmente prevĂȘ validade
do mandato até o ministro completar 75 anos.
O texto também deve receber emendas para aumentar a idade mínima exigida
para compor a Suprema Corte. A regra atual determina que cidadãos entre 35 e 70
anos possam ser indicados para compor uma das vagas do STF. A matéria tramita
na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e aguarda a designação de
relator.
No fim de 2023, Pacheco afirmou que pretende evoluir o debate sobre o
assunto. "Vamos dar a cadĂȘncia devida na CCJ. Quero crer que, no começo do ano,
a gente possa evoluir nesta PEC", adiantou. O apoio do presidente do Senado é
importante para que o texto avance e chegue ao plenĂĄrio rapidamente.
Decisões monocrĂĄticas
Outro projeto de interesse da oposição é a PEC nÂș 8/23, que limita
decisões monocrĂĄticas do STF. Na prĂĄtica, o texto veda decisões proferidas por
apenas um dos 11 ministros da Suprema Corte nos casos de suspensão de leis ou
atos do presidente da República, do Senado, da Câmara e do Congresso Nacional.
Se aprovada, a PEC exigirĂĄ que as decisões sejam tomadas em colegiado,
ou seja, por todos os ministros da Suprema Corte, exceto nos casos de pedidos
formulados durante o recesso do JudiciĂĄrio.
A matéria foi aprovada no Senado com endosso de Pacheco, e agora precisa
ser analisada pela Câmara. Os deputados da oposição veem a tramitação do texto
como prioridade, mas o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), jĂĄ se
posicionou contra o texto. Para que a PEC seja pautada em plenĂĄrio, é
necessĂĄria a determinação do presidente da Câmara.
Foro privilegiado
Outros temas ligados à Suprema Corte também devem movimentar o ano do
Legislativo. É o caso da PEC nÂș 333/17, que propõe a extinção do foro
privilegiado para julgar deputados, senadores, ministros de Estado,
governadores e outras autoridades.
A Constituição determina que essas autoridades sejam julgadas apenas por
tribunais superiores, como o STF, diferentemente de cidadãos comuns, que devem
ser submetidos à Justiça comum. A PEC, aprovada no Senado em 2017 e à espera de
deliberação na Câmara, propõe acabar com a medida.
Na avaliação da oposição, o fim do foro pode reduzir o poder da Suprema
Corte. Na última semana, o vice-líder da oposição no Senado, Eduardo Girão
(Novo-CE), afirmou que o foro privilegiado é um "guarda-chuva de um mecanismo
que protege poderosos no Brasil". A declaração foi feita após operações da
Polícia Federal, autorizadas pelo STF, contra parlamentares do Partido Liberal.
Entendimentos divergentes
No segundo semestre de 2023, parlamentares de oposição também reforçaram
a defesa de projetos sobre as chamadas pautas de costume. O movimento surgiu
logo após a Suprema Corte ter avançado em julgamentos sobre a posse e o porte
de drogas e a criminalização do aborto.
Um dos projetos é a PEC nÂș 45/2023, de autoria do presidente Pacheco,
que criminaliza a posse de qualquer quantidade de drogas. O texto aguarda
apreciação da CCJ do Senado, sob relatoria do senador Efraim Filho (União-PB).
Antes de se aposentar, a ministra Rosa Weber, do STF, votou contra a
criminalização do aborto até 12 semanas de gestação. Com o pedido de destaque
do ministro Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte, o julgamento foi
transferido para o plenĂĄrio presencial, e não deve ser retomado no primeiro
semestre deste ano.
Logo em seguida, membros da oposição protocolaram pedido de plebiscito
para que a população brasileira seja ouvida sobre o tema. O parlamento tem
diferentes projetos apresentados sobre a interrupção da gravidez.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br