Brasileiros em busca de investimento em criptomoedas estão caindo na página de uma corretora chamada Nixse. As denúncias sobre a empresa aumentam a cada dia em diversas páginas na internet, como no Reclame Aqui, e a corretora operou livremente há mais de ano no Brasil.
Foi só em fevereiro de 2023 que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinou a suspensão de ofertas de serviços de intermediação de valores mobiliários pela Nixse. Hoje, a empresa não tem autorização para intermediar valores nem captar recursos de investidores para aplicação em valores mobiliários.
Mesmo assim, o estrago foi grande aqui no Brasil
Um dos casos foi revelado no documentário Realidade Violada: Central do Crime, do TecMundo. O cliente Vasco Corradini buscou a Nixse para investir e acabou enviando US$ 68 mil (R$ 330 mil, na conversão atual de moedas) para a plataforma.
Após complicações pessoais de saúde, Corradini iniciou uma batalha para reaver os valores que acabou na Justiça. Além de devolver aos poucos o dinheiro, que até hoje não foi devolvido integralmente, a Nixse alegava uma suposta multa 70% sobre o valor por quebra de contrato.
O advogado especialista em crimes digitais Luiz Augusto D"Urso cuidou do caso: "Esse cliente não recuperaria a maior parte do valor, o que era extremamente absurdo e abusivo. Eu analisei o contrato e analisei a conduta dessa empresa (tanto o seu site, a ferramenta de investimento e todo o histórico de reclamações já divulgadas em diversos sites na internet) – e isso me causou uma grande suspeita de tudo ser fraude", disse o advogado ao Realidade Violada.
Reclame Aqui
"As reclamações, as denúncias, todas elas corroboram essa minha suspeita de que, no caso, essa empresa (...), é uma empresa que aplica golpes pelo mundo todo para possíveis investimentos em criptomoedas que, na verdade, se apropria dos valores da vítima – cometendo um grande estelionato".
D"Urso explica que, ao final de muita negociação e até ameaças de que o caso seria levado à polícia, a Nixse se limitou a devolver cerca de 5% do investimento do cliente, sendo que os outros 95% ainda estariam sob a posse da empresa.
Apesar de a Nixse alegar que, fisicamente, está localizada em São Vicente e Granadinas (sul do Caribe), o cliente Vasco sempre manteve contato com um brasileiro via Telegram.
"Depois do cadastro, ligaram no outro dia pelo Telegram. Era sempre por Telegram, o nome dele era Fernando Rossi e ele falou que ele era o corretor nosso. E, antes de operar, ele mandava mensagem por Telegram E só ele que ligava. Eu ligava e ele não atendia", comentou Vasco.
Uma das primeiras inconsistências encontradas é que, apesar de a Nixse alegar endereço na ilha caribenha em seu site oficial, o consultor que atendia Vasco dizia que a plataforma operava do Canadá. Isso tudo em 2022. Já neste ano, informações no site da Nixse indicavam que a plataforma nasceu em Taiwan, com sua administração feita a partir de um escritório localizado no Distrito de Xinyi, na cidade de Taipei.
Tudo leva a crer que se trata de um estelionato
De acordo com a vítima, quando ela recebia as ligações de Fernando Rossi "tinha barulho, parecia que havia outras pessoas operando. Comemorando. Comemorando que estavam ganhando, gritando, igual bolsa de valores, que a gente vê na televisão, né?".
O advogado D"Urso adicionou: "O dinheiro, para ser compensado na conta ali da cliente, deveria ser depositado em empresas brasileiras registradas com aberturas de contas em bancos brasileiros e CNPJ, inclusive. Isso é muito estranho também porque, ao fazer uma remessa de valores do Brasil pra qualquer empresa no mundo, isso tem que ser feito pelo sistema bancário ou por criptomoedas diretamente, e não por depósito numa empresa no Brasil pra compensação numa empresa fora do país. Isso cheira a evasão de divisas e outros crimes. Então, tudo leva a crer, em razão, principalmente da não devolução desses 95% da verba da minha cliente, que se trata de um estelionato – ou, se não for um estelionato, a empresa, por não devolver o dinheiro, comete o crime de apropriação indébita".
O TecMundo buscou contato com a Nixse via contato telefônico, via email e via chat ao vivo. A única resposta aconteceu via chat ao vivo: para qualquer contato extra, mesmo identificados como imprensa, a empresa se limitou a dizer que era necessário um cadastro com senha e login para dar continuidade ao processo.
Fonte: Tecmundo