Insatisfeito com os rumos do governo, o jornal O Estado de S.Paulo voltou a
criticar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em editorial publicado
neste sábado (27). No texto opinativo, o veículo de imprensa defende que o
petista "flerta com o desastre" ao tentar "reescrever a história da passagem do
PT pelo poder" no mandato atual. O periódico frisa que o presidente venceu as
eleições – por uma margem pequena – sob a defesa de uma "frente ampla", e não
para impor a agenda petista de intervenção estatal.
No editorial intitulado Não Foi Essa a Agenda que Venceu a Eleição, o
Estadão cita as tentativas do governo de pressionar a Vale para aceitar Guido
Mantega na presidência da empresa e de resgatar do ostracismo a figura do
ex-ministro, deteriorada por escândalos de corrupção.
– Lula da Silva está convencido de que conquistou seu terceiro mandato
não para "defender a democracia", como apregoou na campanha, mas para impor a
agenda petista de desbragada intervenção estatal. A ofensiva lulopetista sobre
a Vale já seria indecorosa mesmo se fosse uma iniciativa isolada, mas está
longe de ser. Tudo parece fazer parte da visão fantasiosa segundo a qual o
Brasil elegeu Lula para dissipar o pouco progresso que o País fez para regular
o apetite estatal – diz o jornal.
O Estadão também cita como exemplo a tentativa do governo de retomar
cargos no Conselho de Administração da Eletrobras, de investir na "malfadada
Refinaria Abreu e Lima" e "retomar políticas fracassadas e marcadas pela mão
pesada do Estado".
– Está claro que a única preocupação no horizonte de Lula da Silva são
as eleições. De olho nos desdobramentos da disputa municipal, o presidente
corre para recriar bandeiras ideológicas que impulsionem os candidatos a
prefeito do PT e de partidos aliados. Vê nisso um caminho para ampliar a rede
de apoios regionais e fortalecer sua própria candidatura à reeleição em 2026,
bem como ampliar a base aliada no Congresso – acrescentou.
O jornal faz questão de lembrar ao presidente que ele conquistou seu
mandato na "disputa eleitoral mais acirrada da história", por uma diferença de
menos de dois pontos percentuais. E que somente o conseguiu devido ao discurso
de "frente ampla" e "defesa da democracia".
– O tom conciliador que Lula adotou assim que foi eleito começa a dar
lugar a um revisionismo histórico que nega os equívocos que permearam a
malfadada "Nova Matriz Econômica". A nova política industrial recentemente
apresentada, por exemplo, é um compilado das ideias atrasadas que tantos prejuízos
causaram ao longo da trevosa era petista – avalia.
O texto finaliza afirmando que Lula deseja convencer o país de que os
desastres que resultaram da era petista nunca aconteceram.
– Vai ser difícil – ponderou o jornal.
Estadão