Diagnosticado com síndrome de Machado-Joseph, uma doença degenerativa
do sistema nervoso, em 2016, Arnaldo Duran se surpreendeu com sua demissão, no
dia 30 de dezembro do ano passado.
Em um bate-papo exclusivo com a coluna, o jornalista desabafou sobre sua
situação, afirmou que a emissora o "queimou" no mercado e ainda definiu como
"desumano" ter sido dispensado estando com um problema de saúde.
"No dia 30 de dezembro, antevéspera de uma passagem de ano, eu fui
chamado pra uma reunião na TV Record, na direção Domingo Espetacular. Eu achei
que era alguma coisa sobre a coluna que eu fazia, a Mitos e Verdades da
Alimentação. Eu estava levando um livro americano sobre alimentos usados como
remédios nos tempos bíblicos e queria fazer uma série de reportagens dentro da
coluna porque achei que seria um negócio excelente pra audiência. Mas não, a
notícia que eles estavam me dando era a de que eu estava sendo demitido",
detalhou.
Em seguida, Arnaldo Duran relatou como se sentiu: "Eu fiquei
assustadíssima, não me lembro de ter nenhuma reação quando me disseram. A ficha
não caiu e acho que não caiu até agora", afirmou.
Ele deu mais informações sobre sua doença: "Eu tenho uma doença neurológica
degenerativa que se chama Machado-Joseph, que agora é conhecida no mundo como
SCA3. E eu acreditava que se eu não ia perder o emprego fácil assim. Porque,
apesar das dificuldades que essa doença traz, por exemplo, no equilíbrio eu já
quase não consigo ficar em pé, só posso andar com o aquele andador. Mas eu falo
muito bem ainda", garantiu, antes de completar:
"Impressionantemente, milagrosamente, eu consigo falar. Acredito que
consiga falar por causa da minha fé. Eu consigo falar, consigo ler textos.
Inclusive eu tenho dois estúdios de áudio, tenho um aqui em São Paulo, outro em
casa no Rio de Janeiro. Eu moro nas duas cidades. Eu cheguei a trabalhar na
pandemia dentro de casa. Eu acho que fui o único dos velhos que conseguiu
gravar a durante a pandemia, em casa. Eu montei um estúdio de vídeo também aqui
em São Paulo", recordou.
Logo depois, Arnaldo Duran voltou a falar sobre a atitude da emissora:
"A minha demissão foi um ato desumano. Por quê? Além de tudo o que aconteceu, a
Record espalhou que me demitiu por causa do salário alto. Já me queimou no
mercado. [Os contratantes pensam] "eu não vou contratar o cara porque ganha,
não tenho dinheiro pra pagar". E espalhou pelo mundo inteiro também que eu
tenho a doença neurológica degenerativa", queixou-se.
Duran deu ainda mais detalhes sobre a "campanha": "Inclusive, vários
sites ligados à Igreja Universal falaram do meu sofrimento com a doença. Até o
bispo Edir Macedo nas redes sociais aparece assistindo a um vídeo que eu
gravei, impressionado com a minha capacidade de lutar contra a doença. Em
vários sites ligados à igreja tem esse depoimento. Ele mandou passar esse
depoimento nas igrejas Universal do mundo inteiro. Eu já me ouvi ouvi falando
dublado em francês e dois sotaques espanhóis", pontuou.
Para o especialista, o comportamento vai contra os preceitos da
religião: "Acho que foi de uma maldade muito grande, uma desumanidade que vai
totalmente contra o que a igreja prega. A igreja prega uma coisa e faz outra.
Quando eu falo a igreja, a responsabilidade é dos grandes da igreja, os bispos
que têm as empresas
Ainda durante a conversa, o jornalista lamentou ficar sem cobertura
médica nesse momento delicado: "Outra coisa, muito ruim. Eu vou ficar sem plano
de saúde. O dono da Life Empresarial é o bispo Macedo. Então, ele mandou
embora, um funcionário doente, é dono plano de saúde, não vai pagar o plano de
saúde desse funcionário. Me deixar sem plano de saúde é de uma crueldade muito
grande, é muito ruim. Me sinto mal de falar sobre isso", emocionou-se.
Questionado sobre um novo trabalho, Duran contou que não tem se sentido
com ânimo para produzir: "Eu tô numa tristeza tão grande, tão doída, que não
deu tempo ainda, não consegui desenvolver nenhum projeto. Deixa essa ferida ir
se curando pra eu voltar às atividades. Empregado eu sei que nunca mais vou
ser, sei que ninguém vai me dar emprego", lamentou.
E seguiu: "Uma coisa que me deixa muito triste é que eu trabalho há mais
50 anos, comecei em 1970 no rádio, e queria fazer 60 anos de profissão antes de
parar. Mas não vai dar".
Arnaldo Duran ainda deu mais detalhes sobre seu problema de saúde: "Eu
tenho muita dor, não tem remédio específico contra a doença de Machado-Joseph,
mas eu tomo muitos remédios pras dores, tenho muita câimbra e sofro muito com
com essas dores, especialmente no frio. Por isso que fico entre Rio e São
Paulo", esclareceu.
No fim da entrevista, o jornalista voltou a desabafar sobre sua atual
situação: "Estou perdido, mas vou encontrar um caminho, com certeza".
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br