Michel Barreto e Endrick no
Aeroporto Santos Dumont — Foto: Acervo Pessoal
Natural do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro,
Michel aprendeu o ofício de engraxate com o irmão mais velho e trabalha no
saguão do aeroporto há 20 anos. Divide o espaço com outros dois meninos e uma
menina, que ficam no embarque de passageiros, enquanto ele tem o próprio ponto,
na área de desembarque.
– Eu estava no ponto de trabalho quando vi uma multidão e eram os
meninos da Seleção chegando. Ele desembarcou depois, uma criança parou e tirou
foto, aí fui na direção dele e disse: "Bom dia, posso tirar uma foto contigo?"
– conta.
Endrick, de pronto, atendeu ao pedido. E naquele momento, enquanto
chegava ao Rio de Janeiro para defender o Brasil no Pré-Olímpico, parou por
alguns minutos para conversar com o engraxate.
– O Michel chegou com toda humildade, mas eu estava de tênis.
Parei para conversar, ele contou muito sobre a história de vida dele, da
família, das filhas pequenas e do quanto ele luta para ganhar o pão de cada dia
– conta Endrick.
Sem clube para torcer, Michel fez elogios ao atacante, confessou a
dificuldade na vida e mostrou fotos das três filhas, que têm dois, quatro e
seis anos de idade.
– Eu sou verdadeiro, mostrei minha família. Ele falou: "Me dá seu
pix". Eu dei o número, agradeci a ele e fui para o Wi-Fi do aeroporto, porque
não tinha crédito no celular.
Quando conectei no Wi-Fi, falei: Meu Deus, R$ 1 mil. Não
acreditei. Três crianças, aluguel
Na hora que eu ia agradecer de novo ele já
não estava mais.
Michel compartilha a admiração pelo atacante e orações para a
família de Endrick. Desde o encontro no aeroporto, ganhou atenções nas redes
sociais por conta de um vídeo divulgado pela página Embaixada e tem sido
bombardeado com mensagens no WhatsApp, que só conseguiu abrir nesta
segunda-feira por conta dos créditos no celular.
Ele conta que assim garantiu o aluguel de casa, o leite da filha
mais nova e a pomada de outra, que está com uma alergia na perna. Há duas
décadas como engraxate, costumava voltar para casa com R$ 120 a R$ 80 de ganhos
por dia, mas agora o movimento caiu – e com cada sapato a R$ 10 não consegue
mais atingir os mesmos valores.
Sempre foi correria, sempre fui engraxate. Comecei por causa de
necessidade, mas lá atrás bombava, agora é média de três ou quatro sapatos por
dia. Muito mal dá para levar o pão de cada dia. Mas com dia ou com chuva a
gente está na correria.— conta.
Materiais com que Michael
Barreto trabalha no aeroporto Santos Dumont — Foto: Reprodução / Embaixada
Materiais com que Michael Barreto trabalha no aeroporto Santos
Dumont — Foto: Reprodução / Embaixada
Michel se admira pelo volume de mensagens chegando no celular
enquanto conversa por telefone. Sorri com bom humor e declara: Endrick é
craque. E ele um fã que carrega a nova foto com orgulho.
Vou emoldurar em um quadro.