Um ano após a crise humanitária
que afligiu a etnia Yanomami, em Roraima, o garimpo ilegal continua a devastar
o território. Em uma operação de fiscalização do Ibama, os repórteres Sônia
Bridi e Paulo Zero do Fantástico da TV Globo acompanharam o fechamento de um
acampamento de garimpeiros.
de acordo com o programa dominical, os fiscais encontraram
combustíveis, mantimentos, instrumentos de geolocalização, celulares e muita
bebida alcoólica, o que é crime, uma vez que álcool é proibido por lei dentro
do território.
Desde a operação que deflagrou a crise humanitária, houve pelo menos
dez episódios nos quais fiscais foram atacados a tiros por garimpeiros. Em um
dos conflitos, um criminoso morto foi identificado como foragido da polícia e
líder de facção criminosa.
O
perfil dos garimpeiros que ingressam no território também mudou. Eles são mais
ousados, audaciosos e violentos, ligados a grupos criminosos armados.
Em um ano, o Ibama já destruiu pelo menos 35 aviões e helicópteros
usados pelos criminosos. Nesse período, a área desmatada pelo garimpo caiu 85%.
No entanto, a crise humanitária ainda é crítica. O número de
mortes de indígenas no território aumentou de 345 em 2022 para 308 em 2023,
sendo que mais da metade eram crianças de até 4 anos de idade.
Na terça-feira (9), o presidente Lula convocou uma reunião
ministerial e anunciou que a estratégia para combater o garimpo ilegal na Terra
Yanomami será diferente. Em vez de operação emergencial, as forças de segurança
vão se instalar e ficar no território.
Uma casa de governo será criada em Boa Vista, capital de Roraima,
para administrar o orçamento de R$ 1,2 bilhão.
"Nós estamos fazendo a desintrução dos garimpeiros. Só que nós
temos que fazer a intrusão do Estado brasileiro, que precisa entrar aqui",
disse Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos.
"Nós conseguimos, com o esforço muito grande, reduzir a abertura
de novos desmatamentos para o garimpo em 85%, mas isso ainda não é suficiente",
afirmou Marina Silva, ministra do Meio Ambiente. "O que é suficiente é estancar
completamente a atividade garimpeira, porque além da malária, você tem a
contaminação com mercúrio, você tem a violência que impede as pessoas de ter a
sua segurança alimentar tradicional".
As comitiva de ministros que foi ao território viu as imensas
cicatrizes deixadas pela extração de ouro e cassiterita.
No posto de Auaris, região com o maior número de mortos no ano
passado, a maioria dos pacientes internados tem malária. Ainda há crianças se
recuperando de desnutrição grave.
"A malária tá aumentando ainda, então a gente está sofrendo. Tem
não tem condição de trabalhar para fazer roça, aí nós também ficamos com
sofrimento de fome", relata o líder indígena Geraldo Sanumá.
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, afirma que o
garimpo ilegal destrói não só o meio ambiente e a saúde dos indígenas, mas
também a própria identidade do povo.
"Para sarar o povo, precisamos primeiro sarar a terra", diz. "E a
destruição que está aqui deixada pelo garimpo é gigantesca. Quando você sobrevoa,
você vê ali os buracos imensos, você vê, né, ali aquelas crateras que, quanto
tempo mais, vai levar para se restabelecer esse ambiente, né?"
Fonte: Gazeta Brasil