Após um ano de iniciativas para regularizar o mercado de e-commerce
cross-border (como é chamada a compra e venda on-line entre diferentes países
por meio de plataformas), a equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
espera dar uma solução para o tema em 2024, segundo apurado pelo Metrópoles.
Neste ano, deverá ser retomado o imposto de importação, de competência
federal, que foi zerado provisoriamente em 2023. O horizonte que vem sendo
trabalhado para a alíquota está na casa de 20%.
Não há prazo definido para uma decisão ser tomada. O Remessa Conforme –
programa de conformidade das remessas internacionais enviadas para o Brasil –
está estruturado desde agosto, mas, como está rodando há pouco tempo, ainda há
poucos dados disponíveis, o que explica não ter havido ainda uma decisão sobre
a retomada do imposto federal.
Entenda
No início de 2023, houve um movimento, por parte do Ministério da
Fazenda, de fechar o cerco e tributar de forma mais efetiva as remessas internacionais.
No entanto, a intensa repercussão negativa nas redes sociais exigiu um recuo.
Em meados do ano passado, o governo lançou, então, o Remessa Conforme,
para que a Receita Federal pudesse colocar no radar as empresas gigantes do
e-commerce internacional (em especial as asiáticas), como Shein, Shopee e
AliExpress. A ideia do programa era corrigir distorções, visto que o varejo
nacional se queixava das condições diferentes de competição.
O Remessa Conforme garante uma isenção provisória do imposto de
importação para as empresas que aderirem ao programa, até que as compras sejam
regularizadas. Desde 1990, a legislação previa uma alíquota de 60% para o
imposto de importação, mas esse valor não era efetivamente cobrado. Isso
porque, nos últimos anos, as encomendas deixaram de entrar no país em
containers para venda pelo varejo brasileiro e passaram a vir de forma
"picada", isto é, em pequenos pacotes, algumas vezes burlando a lei (com
empresas se passando por pessoa física, por exemplo) e sem, na prática, pagar a
taxa de 60%.
A decisão de zerar temporariamente o imposto federal para empresas de
comércio eletrônico cadastradas no programa só é válida em compras
internacionais até US$ 50. Acima desse valor, seguem aplicados os 60% de
imposto.
Além disso, o programa regula o pagamento do Imposto sobre a Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS), de competência estadual, sobre compras de
qualquer valor feitas no exterior. Antes, não havia alíquota única do imposto
estadual para essas compras. No ano passado, secretários de Fazenda acordaram a
alíquota de 17%, que passou a ser aplicada por todos os estados.
Imposto federal vai voltar
A retomada do imposto federal não é novidade, porém o seu percentual e a
data de início da aplicação seguem em disputa. Como já indicado em setembro do
ano passado pelo secretário-executivo da pasta, Dario Durigan, esse imposto
deverá ficar a partir do patamar de 20%.
Essa alíquota vem sendo sugerida pelas próprias companhias
internacionais que procuram se regularizar no Brasil, mas está abaixo do que as
varejistas nacionais defendem. O Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV)
não apresentou um número, mas antevê demissões e fechamento de lojas no país
caso a isenção se mantenha por muito tempo. Esse grupo fala em renúncia de
receitas da ordem de R$ 137,7 bilhões.
Em decorrência do programa do governo, já houve um aumento de
arrecadação do e-commerce, visto que algumas empresas não estavam pagando os
impostos devidos. A Receita deverá apresentar um balanço do Remessa Conforme,
em data não definida.
O varejo nacional também afirma que a carga tributária paga pela
produção no país é muito elevada, com alíquota na faixa de 110%. A informação é
refutada por especialistas e dentro do próprio ministério, mas há uma compreensão
de que existe, de fato, uma falta de isonomia em relação ao importado.
A Fazenda avaliou que um ajuste na tributação não poderia ser feito sem
que as informações completas estivessem disponíveis. Por isso, o Remessa
Conforme veio para colocar luz na história.
Haddad disse que decisão ainda não foi tomada
No fim de dezembro, em café com jornalistas, o ministro Haddad disse que
ainda não havia sido tomada uma decisão sobre a nova alíquota do imposto de
importação e reconheceu a controvérsia em torno do tópico.
"Não há uma decisão ainda por parte do governo sobre isso (a alíquota do
imposto federal)", disse. Questionado se o governo desistiu de taxar, ele
respondeu: "A decisão de rever o imposto de importação não foi tomada". Havia
expectativa de que uma decisão fosse anunciada até o Natal de 2023.
Na entrevista, Haddad também se queixou da pressão de parlamentares de
oposição, em especial pelas redes sociais, e criticou o governo anterior pela
inação nesse tema: "Como o governo anterior praticamente fomentou o
contrabando, sem tomar nenhuma medida, foram quatro anos de escalada do
contrabando no país. Eu não consigo nem entender como ninguém respondeu por
improbidade administrativa".
"Estão cobrando pressa do governo (atual), o governo já tomou medidas",
prosseguiu ele, dizendo que a gestão petista disciplinou o tema e "estancou a
sangria". "Então, nós vamos ter esse tempo de amadurecimento, porque é
controverso esse tema", concluiu.
O número de encomendas vindas do comércio internacional explodiu a
partir de 2017, aumentando ainda mais durante a pandemia.
Arrecadação
O governo incluiu no Orçamento de 2024 uma previsão de R$ 2,8 bilhões de
arrecadação com a taxação do comércio on-line. O montante é importante para
compor o aumento de receitas que o governo precisa para zerar o déficit fiscal
este ano.
Para estimar essa arrecadação, a Receita considerou alíquota de 28% para
taxar compras on-line internacionais de até US$ 50. O cálculo consta em nota
técnica da Subsecretaria de Administração Aduaneira (Suana), de 29 de agosto, a
qual o Metrópoles teve acesso.
Nesse cenário, se o ICMS incidente na importação (de 17%) for
considerado, a tributação proposta pode chegar a aproximadamente 50% do valor
da mercadoria importada.
A Receita Federal foi procurada pela reportagem para um posicionamento
oficial, mas disse não possuir informações adicionais sobre o programa neste
momento.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br