São Paulo — A aproximação entre Ricardo Nunes (MDB) e o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL), motivo apontado por Marta Suplicy para deixar a atual gestão da
Prefeitura de São Paulo, não poderia servir de justificativa para que ela se
aliasse ao seu principal adversário, na visão do prefeito da capital. Para ele,
o motivo "não cola".
Segundo Nunes, Marta era integrante de seu conselho político e sabia há
mais de um ano do plano traçado por sua equipe para enfrentar o deputado
federal Guilherme Boulos (PSol): criar uma "frente de centro e de direita", que
inclui o apoio dos bolsonaristas, para derrotar a "extrema esquerda", como ele
tem tachado o rival.
"Eu sempre falei [sobre se
aproximar de Bolsonaro]. Não foi o presidente Lula que contou para ela que eu
quero o apoio do Bolsonaro, concorda?", disse Nunes, nessa quarta-feira (10/1),
em uma universidade da zona sul da capital, quando falou pela primeira vez
sobre a saída de Marta da Prefeitura.
Nunes apoiou Bolsonaro contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) no segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Já nos primeiros
meses do ano passado, deu entrevistas dizendo que buscaria o apoio do
ex-presidente para enfrentar Boulos, que já contava com um acordo de aliança
com o PT.
Marta, que era uma das conselheiras políticas do prefeito, acompanhou
todas essas movimentações enquanto esteve na gestão como secretária de Relações
Internacionais, cargo que ocupou entre janeiro de 2021 e a última terça-feira
(9/1), quando acertou sua demissão com o prefeito após aceitar o convite para
voltar ao PT e ser vice de Boulos.
Ela também participou de decisões estratégicas ligadas a essa
aproximação, segundo auxiliares do prefeito, o que incluiu o convite para que
Bolsonaro almoçasse na Prefeitura, em agosto.
"O fato está posto, isso não cola. O presidente Bolsonaro foi almoçar
comigo na Prefeitura. Era ela minha conselheira, discutia as estratégias
políticas. Dizer isso agora. Não preciso nem negar para vocês, que são pessoas
inteligentes, acompanham o noticiário. Agora, conversou com o Lula e aí mudou?
Então, me desculpe, mas isso não cola", disse Nunes.
Marta vinha sendo sondada pelo PT para aceitar voltar ao partido e
disputar as eleições como vice de Boulos desde dezembro, como mostrou o
Metrópoles.
A oposição que ela fez a Bolsonaro, marcada por uma participação ativa
na construção da aliança entre Lula e o vice Geraldo Alckmin (PSB) pela chamada
"frente ampla" contra o bolsonarismo, em 2022, foi o motivo usado para
justificar o desembarque da Prefeitura, onde ela estava desde 2021.
O plano da ex-prefeita e ex-senadora era só se demitir da Prefeitura na
semana que vem, quando voltaria das férias. Mas a divulgação de uma foto ao
lado do presidente Lula após reunião em Brasília, na última segunda-feira
(8/1), acelerou o processo.
Nunes viu a situação como insustentável e seus aliados a classificaram
como "traição", palavra que o prefeito considera "muito forte" para usar, ao
menos publicamente. Marta e Nunes conversaram no fim da tarde de terça-feira
por cerca de duas horas e combinaram em anunciar uma saída "em comum acordo".
Marta deverá ter a primeira conversa olho no olho com Boulos após topar
a empreitada neste sábado (13/1), em um almoço na casa da ex-prefeita, nos
Jardins, zona oeste da cidade.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br