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Formiga africana é capaz de identificar feridas e tratá-las com antibiótico

Por Blog do Elias Hacker 02/01/2024 às 16:31:53

Comuns no sul do Saara e nas savanas da África Ocidental, as formigas Megaponera analis só se alimentam de cupins. Mas comĂȘ-los nem sempre é fĂĄcil e, muitas vezes, elas saem feridas pelas poderosas mandĂ­bulas desses insetos.

Por isso, as formigas da espécie desenvolveram uma estratégia de sobrevivĂȘncia impressionante: elas fabricam seus próprios antibióticos, sendo capazes de identificar as ĂĄreas feridas infectadas por bactérias. Isso foi relatado por pesquisadores em um estudo publicado em 29 de dezembro de 2023 na revista Nature Communications.

Para tratar ferimentos, as formigas M. analis aplicam compostos antimicrobianos e proteĂ­nas nas feridas, que tĂȘm uma eficĂĄcia incrĂ­vel. A taxa de mortalidade de indivĂ­duos infectados é reduzida em 90%, segundo a pesquisa.

As formigas retiram esses antibióticos da glândula metapleural, que fica ao lado de seu tórax. A secreção da glândula contém 112 componentes — metade dos quais tĂȘm efeito antimicrobiano ou de cicatrização de feridas.

À esquerda uma lesão recente.À direita o quadro uma hora após o tratamento, com a superfĂ­cie da ferida parecendo estar selada — Foto: Erik Frank / University of Wuerzburg

À esquerda uma lesão recente.À direita o quadro uma hora após o tratamento, com a superfĂ­cie da ferida parecendo estar selada — Foto: Erik Frank / University of Wuerzburg

"Com exceção dos humanos, eu não conheço nenhum outro ser vivo que possa realizar tratamentos médicos de feridas tão sofisticados", observa um dos lĂ­deres do estudo, Erik Frank, da Universidade Julius-Maximilians (JMU), na Alemanha, em comunicado.

Frank conta que anĂĄlises quĂ­micas em cooperação com o Professor Thomas Schmitt da JMU mostraram que "o perfil de hidrocarbonetos da cutĂ­cula (ou epiderme) da formiga muda como resultado de uma infecção na ferida". É essa mudança que as formigas conseguem reconhecer e, assim, diagnosticar a infecção em suas companheiras feridas.

Laurent Keller, outro lĂ­der da pesquisa, acrescenta que as descobertas "tĂȘm implicações médicas porque o patógeno primĂĄrio nas feridas das formigas, [a bactéria] Pseudomonas aeruginosa, também é uma das principais causas de infecção em humanos, com vĂĄrias cepas sendo resistentes a antibióticos".

Erik Frank (à direita) e Florens Fischer (esquerda) investigando o comportamento de formigas

Erik Frank (à direita) e Florens Fischer (esquerda) investigando o comportamento de formigas "Megaponera analis" em ninhos artificiais de laboratório — Foto: Erik Frank / University of Wuerzburg

O próximo passo da pesquisa serĂĄ explorar comportamentos de cuidados com feridas em outras espécies de formigas e outros animais. Os especialistas desejam identificar e analisar os antibióticos usados pelas M.analis em parceria com outros grupos de pesquisa. Isso pode levar à descoberta de novos antibióticos que também poderiam ser usados em humanos.

Formigas na Netflix

A pesquisa de Frank sobre formigas africanas que cuidam de feridas rendeu assunto em um dos episódios da série documental da Netflix A Vida No Nosso Planeta (2023), dirigida por Steven Spielberg. O seriado apresenta a evolução da vida nos Ășltimos 500 milhões de anos.


Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br

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