Até as eleições de 5 de novembro de 2024, os Estados Unidos viverão momentos dignos de um thriller de suspense, com desdobramentos nos tribunais, no Congresso e nas disputas pelas primárias em cada um dos 50 estados. O presidente Joe Biden responde a um processo de impeachment motivado pelos negócios escusos do filho, Hunter Biden, com a Rússia e a China. Os especialistas acreditam que são praticamente impossíveis as chances de o democrata ser destituído do cargo. O magnata republicano e ex-presidente Donald Trump enfrentará a Corte, após ser formalmente acusado de vários crimes, como a interferência nas eleições de 2020, a remoção e posse ilegal de material confidencial da Casa Branca, e o pagamento de suborno a uma ex-atriz pornô em troca de silêncio sobre um suposto caso extraconjugal. As pesquisas mais recentes apontam que Trump tem grandes chances de retornar ao posto mais poderoso do mundo.
O historiador político James Naylor Green, professor da Universidade Brown (em Rhode Island), disse ao Correio ter a certeza de uma das primeiras medidas de Trump, caso consiga a reeleição, e descarta que o republicano não consiga a nomeação do partido. "Nem Ron DeSantis (governador da Flórida), nem Nikki Haley (ex-embaixadora dos EUA nas Nações Unidas) têm chance de bloquear a nomeação de Trump. Ambos apostam na possibilidade de que as acusações contra ele o levem a desistir da disputa, mas o ex-presidente precisa ser reeleito para conceder o autoperdão em pelo menos um dos três importantes casos de crimes federais aos quais responde: em Washington, em Nova York ou na Flórida", avaliou. "Mesmo que um presidente nunca tenha se dado indulto, Trump o fará no primeiro dia de governo, se vencer as eleições."
James Green não vê nenhum candidato sério capaz de ameaçar Biden. "Teoricamente, isso poderia mudar caso Biden decidisse não concorrer novamente, o que Lyndon Baines Johnson fez em 1968, mas acho improvável. A disputa será entre Biden e Trump", garante. Os republicanos inauguram a disputa intrapartidária com o caucus no estado de Iowa, em 15 de janeiro. Oito dias depois, os dois partidos realizam primárias em New Hampshire. Todos os olhos estarão voltados para a chamada Super Terça, em 5 de março, quando 17 estados vão às urnas para as escolhas de delegados, os quais serão cruciais para a escolha dos candidatos — democrata e republicano — em 5 de novembro. A participação de Trump nas primárias do Colorado é uma incógnita; em 19 de dezembro passado, a Justiça do Colorado o baniu do processo por entender que suas ações relacionadas ao ataque contra o Capitólio, em 2021, o tornam inelegível.
Até o fim de março, 50% dos delegados terão sido eleitos. Se todas as previsões se confirmarem, o nome de Trump será oficializado em 18 de julho, durante a Convenção Nacional do Partido Republicano, em Milwaukee, no estado de Wisconsin. Em 22 de agosto, Biden deverá ser consagrado na convenção democrata, em Chicago.
Professor do Departamento de Governo da Universidade de Cornell, em Ithaca (Nova York), David A. Bateman afirmou à reportagem que vê boas chances de Trump ser eleito, mas não descarta uma disputa acirrada entre os republicanos. "Os partidos estão tão divididos, e o país tão polarizado, que qualquer um consiga a indicação pode vencer. Diferentes eleitores sentem repulsa e simpatia por Trump, mas creio haver uma maior rejeição. Trump não mudou muito desde 2016, e aqueles que se sentiram atraídos por ele não têm razão para mudar", opinou.
Condenação
Bateman vê uma possibilidade real de o magnata ser condenado em um dos julgamentos e ter a eleição prejudicada. "Se ele for considerado culpado antes do pleito, suas chances de ganhar em novembro diminuiriam de forma considerável. Se isso ocorresse depois de sua eleição, teríamos uma crise constitucional", advertiu. Pela primeira vez, um presidente no cargo seria imputado com um crime federal. No caso de uma absolvição antes de novembro, o estudioso avalia que Donald Trump ficaria em uma posição muito boa para voltar à Casa Branca.
O professor da Universidade de Cornell não desqualifica as chances de Biden permanecer como inquilino da Casa Branca. "Provavelmente, ele tem um ligeiro favoritismo. Presidentes em exercício costumam ter uma vantagem substancial na corrida eleitoral", lembrou Bateman. Nos últimos ciclos eleitorais, os democratas saíram em peso de casa para votar, o que pode ser um fator positivo para Biden. "No entanto, ele está mal nas pesquisas de opinião pública e não mostra sinais de melhoria. Acho que a eleição está perto de ser uma 'aposta meio a meio', com leve vantagem para Biden", acrescentou.
David Bateman aposta que Haley ou DeSantis são as duas alternativas mais prováveis a Trump. "Isso até pode mudar, mas não vimos, até agora, nenhuma evidência de que haja muito apetite no Partido Republicano por mais alguém. O único rival significativo de Trump no Partido Democrata é Biden. Ele terá a indicação, a menos que morra", garantiu. Também pesa contra Biden o fato de ter 81 anos — ao fim do mandato, ele estaria com 85. Quando foi eleito, em 2020, já era o mais velho entre todos os presidentes dos EUA no cargo.
Fonte: Correio Braziliense